Minha esposa plantou alguns temperos na sacada do apartamento. Entre eles, sálvia. Ela decidiu colocar um pouco dessa erva para secar, a fim de deixar pronta para ser usada na preparação das refeições. Colocou em um papel-manteiga e pendurou.

Alguns dias depois, abriu o embrulho e o que se viu ali me deixou muito surpreso. A sálvia ficou com o aspecto de um chá árabe que minha família sempre preparou. O nome é maramia. O cheiro também era idêntico. Fui buscar no Google e minha suspeita se confirmou.

A primeira definição que encontrei dizia que maramia é um chá de sálvia com origem no Oriente Médio. Fiquei encantado com aquilo. Às vezes, esperávamos anos até um familiar viajar para terras árabes e trazer a iguaria. Minha esposa fez aquilo surgir sem querer.

Isso explica porque meu pai costuma temperar o galeto com maramia. Sempre achei aquilo meio estranho. Afinal, era uma erva usada para chá. E o pior é que fica muito bom. No fim da história, era apenas sálvia, um tempero simples e maravilhoso.

Conversamos com minha mãe a respeito, com uma cara de quem descobriu a América. Só que ela revelou o óbvio: só nós não sabíamos disso (pausa para risos). Ouvia “maramia” desde criança e nunca parei para fazer essa relação. Para mim, era algo exclusivo do Oriente Médio.

Esse chá sempre foi uma delícia. Dizem que é ótimo para o estômago. Depois de adulto, criei o hábito de tomar chimarrão. De vez em quando, jogo umas folhas de maramia junto com a erva-mate. Dá um toque especial para a bebida tradicional gaúcha.

Aprendi a apreciar outra maravilha com a esposa. Macarrão fresco, manteiga e sálvia. Receita simples e poderosa. Minha mulher, aliás, preparou uma sobremesa escandalosa com mais uma erva plantada em nossa sacada. Ela fez sorvete de manjericão.

Quando experimentei esse milagre culinário, fiquei com vontade de pedi-la em casamento novamente. Quase enlouqueci. Sinceramente, comecei a me odiar por ter comprado aqueles sorvetes de 2 litros de marcas conhecidas por tanto tempo.

Poucas coisas se comparam com a sensação que tive ao experimentar essa sobremesa. Saber que o ingrediente principal veio da sacada do apartamento foi ainda mais impactante. Com relativa frequência, as pessoas se focam no futuro e se esquecem de apreciar o presente.

Penso que há coisas que só conseguimos perceber quando paramos de pensar no que pode acontecer de revolucionário amanhã. É preciso partir de onde estamos e usar os recursos que temos. Assim, nossos olhos ficarão mais atentos para situações simples e fantásticas.



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